A história da análise do ciclo de vida remonta aos anos 60. Precisamente, em 1963, durante a Conferência Mundial de Energia, onde Harold Smith – gerente geral de projetos da Usina Nuclear de Douglas Point, no Canadá – trouxe à pauta o conceito do esgotamento de recursos naturais e propôs uma forma de calcular a demanda energética acumulativa ao se produzir produtos químicos e intermediários em geral.
Anos mais tarde, Harry E. e Teastley Jr., funcionários da The Coca Cola Company, conduziram um estudo envolvendo inúmeros critérios para decidir qual das duas soluções de embalagem possuíam o ciclo de vida mais econômico mais adequado em termos ambientais. A época, suas conclusões determinaram que garrafas plásticas eram menos poluentes que as garrafas de vidro.
Suas conclusões suscitaram uma série de discussões acadêmicas e científicas para que se pudesse estruturar mundialmente um método padronizado e confiável para a avaliação de ciclos de vida dos produtos.
É bem importante lembrarmos que a preocupação pela mudança da matriz energética sob a alegação de salvaguardar o planeta foi germinada por um representante da indústria de geração nuclear.
Também coincidentemente, menos de uma década mais tarde o mundo ocidental se viu imerso na crise do petróleo, quando os países membros da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo proclamaram um embargo a todas as nações que deram apoio à Israel durante a guerra de Yom Kippur (Canadá, Japão, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, num primeiro momento).
Isso não invalida, de forma alguma, a preocupação em sistematizar as escolhas sob o prisma ambiental. Apenas a iniciativa e o desejo de se buscar o melhor já é um bem maior ao Planeta e às novas gerações.
LCA “padrão” existe?
Nestes últimos anos e especialmente por conta da pauta da nossa publicação, cada vez mais ligada às questões ambientais e que afetam imensamente a indústria de embalagens e, por conseguinte, nossos clientes, passamos a estudar mais profundamente o tema da Análise do Ciclo de Vida, a LCA (Life Cycle Assessment).
O primeiro tabu que precisamos debater é que as avaliações LCA não são fechadas.
Não existe um padrão internacional (embora haja algumas tentativas da ISO em normatizar desde há muito, tudo que ela conseguiu até o momento é dar alguma diretriz para o que não pode ficar de fora de uma análise LCA) ou, por falta de termo melhor em português, “guidelines”.
Existem centenas, se não milhares de abordagens diferentes e NENHUMA delas chega na mesma resposta. A ferramenta também é muito suscetível a vieses cognitivos.
Apenas como exemplo, o defensor do papel pode considerar na análise que o papel de degrada muito antes do plástico, como ponto forte da sua dialética verde.
Em resposta, o defensor do plástico pode enfocar que temas como a razão peso da embalagem x peso do produto, o peso médio transportado e a quantidade energética para reciclar são infinitamente superiores no plástico (principalmente se entrar na conta a capacidade de reutilização de envoltórios plásticos como sacolas em relação ao material equivalente em papel).
O LCA pode ir para temas altamente sofisticados como a quantidade de oxigênio que se deixa de gerar ao cortar as árvores que deram origem ao papel da embalagem. Ou os créditos de carbono “em haver” do plástico, ao estimular o uso de uma matriz energética não-renovável.
Como ambiental e social andam juntos, deveríamos considerar avaliar o impacto econômico das duas cadeias na escolha do produto, por exemplo. Qual a riqueza, bem-estar social e felicidade criados no fomento à indústria de celulose e papel versus a cadeia dos termoplásticos? Tudo isso sem esquecer as intrincadas cadeias de coleta e reciclagem.
Neste momento – nossa opinião somente – a maturidade no uso de análises LCA é ínfima para que se possa tomar decisões técnicas entre um material de embalagem ou outro.
Ela serve para apontar lacunas de melhoria no desperdício de recursos e estimular o pensamento crítico dos desenvolvedores e donos de marca para perguntas como “estamos fazendo o melhor que podemos para diminuir o impacto ambiental das nossas embalagens?”
O que deve ser feito é um esforço consciente enquanto cadeia produtiva para rumar à mentalidade “Cradle2Cradle”, do berço ao berço – ao considerar desde o nascimento do produto que o fim não é o descarte, mas a reintrodução do descarte na mesma cadeia ou em diferentes cadeias produtivas, esticando a vida útil do produto ao passo em que gera riqueza e outras benesses à sociedade e ao entorno.
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