Seja como terceiro ou como parte de uma empresa é ela, a pré impressão, que é a responsável por traduzir um arquivo de computador numa matriz de impressão. Os percalços e desafios desse integrante da cadeia de produção são muitos e fazem com que a pré impressão seja o suspeito usual quando alguma coisa dá errado.
Essas breves linhas não tem o intuito apontar o dedo para este ou aquele participante da cadeia de produção e sim, na medida do possivel, tentar desmistificar um processo complexo e que tenta, muitas vezes com sucesso, controlar e centralizar variaveis do processo de produção, e assim converter um sonho de um designer/produtor em uma embalagem bonita, funcional e algumas vezes, inovadora.
No atual cenário, a pré impressão é muitas vezes o patinho feio do processo. Se um impresso não chega na cor, é culpa da pré impressão, um texto que desapareceu, pré impressão, já ouvi até de pré impressores que a própria prova de cor que eles fornecem, ainda que feita com base a todo um estudo de colorimetria, é usada contra eles: “Façam uma nova chapa pois não conseguimos chegar na cor da prova”. O que demonstra, convenhamos, um total desconhecimento do processo de pré impressão.
Fato é que uma pré impressão bem feita, onde os dados de impressão são resgatados através de sistemas próprios para avaliação da densidade, ganho de ponto e demais variáveis é um processo meramente matemático. Ainda que muitos possam discordar da afirmação que acabo de fazer, vou reiterar, controle de cor, ganho de ponto e transformar um arquivo digital em pontos numa matriz de impressão é um processo matemático. Simplificando ao extremo a pré impressão é tão simples quanto dois mais dois são quatro.
Claro que escrevo isso sob pena de muitos dizerem que estou esquecendo do tratamento de imagens e ajustes do arquivo para o processo de impressão. Mas infelizmente esses mesmos processos, ainda que necessários, também são matemáticos pois dependem de medições e controles e apesar de todo o tom artistico do negócio, de todas as possibilidades de perfis de cor e de monitores calibrados, todo tratador de imagem mede a cor em porcentagem para ter uma idéia de como será o resultado (o que demonstra mais uma vez que existe objetividade e não subjetividade quando se trata desse tema).
Parte da culpa de fazer a pré impressão tão complexa vem da própria pré impressão, pois ao mesmo tempo que corrigem arquivos em praticamente todos os clientes que eu conheço, é a pré impressão que controla detalhes produtivos incluindo, acreditem, a quantidade de cilindros que um convertedor tem disponivel para imprimir um certo formato de trabalho. Portanto daí surge uma situação onde a qualidade do impressão depende especificamente do quanto essa pré impressão sabe do processo de impressão, de cada cliente (no caso de pré impressão terceirizada) e/ou de cada máquina.
Eu acredito que isso se deve a alguns fatores, se por um lado, a pré impressão é aquele mistério mágico de “apertadores de botão” que aparecem com uma matriz de impressão a partir de um arquivo “supostamente complicado” (o que em muitos casos é verdade), por outro lado foi uma necessidade do fornecedor de pré impressão controlar melhor as variaveis para melhorar a qualidade de impressão e ter uma vantagem em relação aos concorrentes.
Grandes marcas já descobriram esse pulo do gato há muito tempo e usam as tão famosas Pre Medias que tem, além de outras funções, uma pré impressão que controla o processo de impressão e garante portanto uniformidade na representação de uma marca em qualquer processo produtivo.
Se tomarmos essa definição como base poderiamos lançar uma campanha “Somos Todos Pre Media” pois é esse o caminho que tomam a maioria dos fornecedores de pré impressão, internos ou externos. Seja para marcas de grande expressão mundial ou regional, esse trabalho é sim realizado numa certa extensão por todas as empresas/setores de pré impressão que conheço.
E é nesse ponto que reside um dos maiores desafios da pré impressão atual que é buscar a harmonia entre a cadeia produtiva, harmonia essa que depende de algumas ações para diminuir os atritos e fazer com isso que o pessoal da pré impressão durma com a consciencia tranquila de que um trabalho vai funcionar “de primeira”, diminuindo prejuizos e fazendo com que o cliente final tenha predictabilidade dos seus projetos de embalagem.
Isso me faz lembrar um video desses de whatsapp que recebi de um cliente há alguns dias, nele varios executivos tentavam montar uma bicicleta em grupos separados. O que acontecia é que cada grupo não possuia todas as ferramentas necessárias para entregar uma bicicleta “decente” e ao invés dos grupos conversarem entre si simplesmente tentaram improvisar. Claro que o resultado foi decepcionante.
É exatamente isso que acontece com a cadeia de fornecedores de embalagem, ao se esquecer que o objetivo de todos na cadeia produtiva tem a responsabilidade por executar um trabalho, a colaboração entre designer, impressão e pré impressão é limitada e com uma tendencia a apontar culpados por eventuais erros. O resultado é uma “bicicleta capenga” que pode ser traduzida como atrasos, não conformidades e reimpressões ou seja, prejuizo a todos os envolvidos.
Nos ultimos anos muita coisa avançou no processo de pré impressão, melhoria na qualidade de gravação, automação de alguns processos produtivos (mais presente em rotulos e etiquetas) mas acredito que em um setor especifico existe espaço para melhoria e eu me refiro a comunicação. É comum estar em uma reunião com clientes, sejam gerentes de pré impressão, ou produção ou ainda operadores e o telefone tocar perguntando sobre o estado de cada trabalho. Nesse momento eu penso: “really???”. Estamos numa época de conexão e comunicação e ainda é necessário interromper uma pessoa a situação de um certo trabalho? Ou será que estamos numa época onde as pessoas olham constantemente a tela de algum dispositivo que tem acesso a uma rede que interliga a todos?
Hoje em dia com todas as pessoas conectadas, o tempo todo, via inumeras ferramentas, é de admirar que em muitos lugares toda a comunicação para aprovação de arquivos seja gerenciada via emails (que apesar de práticos nem de longe substituem uma base de dados por exemplo) ou ainda contatos telefonicos que algumas vezes caem no esquecimento.
Se existe um futuro lógico e um próximo passo para a pré impressão dentro da cadeia produtiva é o de desenvolver ferramentas para estar mais inserida no contexto produtivo, seja de comunicação com clientes ou com outros setores, em outras palavras, falta integrar-se.
Somente com essa integração, é possível automatizar tarefas dentro da pré impressão e elevar ainda mais o patamar de qualidade e agilidade que hoje estão presentes. Essa automação além de garantir melhor velocidade elimina intervenções humanas no processo deixando o mesmo menos suscetível a erros inerentes ao ser humano, aquele famoso “achei que era melhor assim”. Além disso existem inumeras ferramentas que a pré impressão pode disponibilizar para melhor controle de custos de um projeto, sejam ferramentas simples sobre cobertura de tinta de um certo arquivo, a ferramentas mais complexas e hoje, via de regra, intangíveis como qual o custo da pré impressão nesse projeto.
A conclusão é bastante lógica, para o processo de impressão ter mais sucesso é fundamental que a pré impressão tenha as informações das variaveis de impressão, após esse momento, somente trabalhos impressos sob a mesma condição (tinta, densidade, substrato, etc.) podem ser executados com predictabilidade e dessa forma garantir que vão estar certos naquele momento. É portanto fundamental a colaboração entre as pessoas envolvidas em cada etapa do processo para que o sucesso seja constante.
Achar que o que a pré impressão faz é mágica e que as condições de impressão (anilox, dupla face, tinta, substrato, etc.) não influenciam tanto é receita para o fracasso, já que como foi mencionado antes, a pré impressão é pura matemática e não dá pra discutir quando alguém fala que dois mais dois são quatro.
Autor: Heysler Hey Pico