Em um passado distante, estudos (sim, sempre esses tais estudos nebulosos) diziam que um trabalhador não seria capaz de suportar viagens diárias superiores a 45 minutos entre a sua casa e o trabalho. O último estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) coletou dados do tempo médio de viagem casa x trabalho em diversas capitais brasileiras, no período compreendido entre 1992 e 2009. Naquela saudosa época, de “trânsito ameno”, o paulista levava em média 42,8 minutos de trajeto, ao passo que o carioca, 42,6 minutos. Este tempo ficava somente atrás de Xangai, China, à época com 50 minutos.
É claro que desde então, a coisa só piorou. Mais carros, mais motoristas inexperientes, mais problemas de manutenção das rodovias e, pasmem, mais comportamento de manada com a difusão dos aplicativos de orientação no trânsito como o Waze (sim, novamente os estudos – dessa vez mostrando por A mais B que estes aplicativos mais atrapalham do que ajudam: https://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/03/16/estudo-prova-que-waze-e-google-maps-na-verdade-atrapalham-o-transito.htm).
Ficar tempo demais no trânsito tem, certamente, mais implicações negativas do que positivas. Com o aumento da ansiedade e do estresse, sobe o risco de comportamento perigoso nas estradas, eleva-se também a probabilidade de acidentes e agravamento da saúde em geral – tempo demais sentado ou em pé propiciam problemas de circulação sanguínea, por exemplo.
A obesidade também é favorecida, uma vez que parte da ansiedade é combatida comendo. Pequenos snacks, chocolates, bebidas prontas e tudo o que pode ser carregado nas mãos, bolsos, bolsas e sacolas. Sabendo-se dessa demanda latente por “alimentação em trânsito”, proliferam-se as vending machines nas estações de trem, metrô, ônibus e aeoroportos.
Mas o que nos interessa é a embalagem. Comer em trânsito é um desafio. Seja fazendo isso mais confortavelmente enquanto dirige (o que não é recomendado, por sinal), quer de pé apertado feito uma sardinha no metrô sentido Corinthians – Itaquera.
Embalagens para consumo em trânsito precisam ser projetadas com um mindset diferente: precisa ser o menor e o mais leve possível, ter boa conformidade (nesse quesito, as flexíveis levam ampla vantagem), ter grande resistência à queda (drop test “nível hard”), apresentar dispositivos para abrir e fechar sem vazamentos (o que seria um desastre naquela bolsa cheia de trecos onde encontrar a chave é tarefa hercúlea) e – o principal – ser muito, muito ergonômica. Comer ou beber algo sentado ou em pé em um veículo em movimento exige destreza, mas a embalagem pode ajudar com uma “pegabilidade” extra. É precisamente por este motivo que uma das principais soluções flexíveis para consumo em trânsito – stand-up pouch – tem adquirido formas cada vez mais orgânicas. Garrafas e frascos rígidos estão com um design cada vez mais funcional e a maioria dos frascos de isotônicos e águas, produtos geralmente consumidos durante exercícios físicos como corrida, caminhada e pedaladas, tem agregado um “grip” (textura ou relevo) na região da pegada da mão, que reduz o risco de escorregamentos e quedas.
Projetar embalagens não é algo que possa ser feito de forma passiva, esperando o fornecedor trazer alguma novidade. Mais do que nunca, é necessário compreender e estar antenado às macro e microtendências que, gradual e silenciosamente, vão modelando o comportamento do consumidor.
Espero que esse texto, após um certo tempo sumido do LinkedIn, seja leve e agregue alguma informação útil. By the way, mais uma faceta do consumo em trânsito são os audiobooks (reparou que a loja da Google começou esta semana a vender audiobooks?), uma vez que as pessoas agora tem mais tempo para ler a caminho de casa. Quem sabe, em breve, o LinkedIn não lança uma nova funcionalidade para, ao invés de subir textos como esse, não possamos subir já o audio? LinkedIn, vai que é sua e depois lembra dos royalties aqui do tio…
Abraços,
Aislan Baer