Seguimos, enfim, com a nossa pauta especial em que capitaneamos a ideia de trazer soluções para diminuir os impactos de um ano perdido no setor gráfico e convertedor nacional. Sumarizando brevemente, falamos sobre a importância do enfoque na produtividade, enveredamos para o fortalecimento do setor de suprimentos e, mais recentemente, tecemos nossas considerações acerca da qualidade na tomada de decisão no chão da fábrica.
A anatomia da inovação no setor gráfico e convertedor
Pare e pense um pouco antes de responder (e seja sincero): – qual é efetivamente o esforço empreendido pelas gráficas e convertedoras brasileiras no sentido de inovar em seus produtos, serviços ou mesmo na forma de comercializá-los?
Salvo raras exceções – em sua maioria, oriundas das poucas megacorporações globais – o esforço é pouco ou quase nada.
A inovação basicamente reside na enfadonha espera por alguma novidade por parte dos fornecedores de matérias-primas ou da “solicitação de amostra” dos clientes (em geral, redimensionamento de painéis, redução de gramatura e espessura ou tentativas de mudança estrutural por filmes já conhecidos, objetivando algum ganho de maquinabilidade ou custo).
Cá entre nós, a energia que permeia a nossa cadeia, em termos de inovação, é tão irrisória que a maioria das bobinas de amostra sequer será testada. Aquela bobina com passo de fotocélula terminará seus dias com uma espessa camada de pó, esquecida em alguma prateleira ou pallet no armazém do cliente.
Existem muitos profissionais especialistas no tema: alguns deles inclusive coroam as páginas da nossa revista periodicamente com seus valiosos insights, como a Leila Malta e Andrê Gazineu. Eu não sou um deles.
Todavia, em todos estes anos de consultoria adquiri a percepção cristalina de quão estratégica é a cultura da inovação num mercado que vende seus produtos por quilo (tal qual um saco de batatas) ou em milheiro (tal qual um fardo de rolos de papel higiênico).
Num mundo de abundância de oferta, a maioria das decisões se baseia no menor preço, “a menos que” exista um diferencial. Esta palavra-chave é sinônimo de inovação, no contexto dos negócios.
Basicamente, a inovação caminha no sentido do produto ou serviço, do processo em si e do modelo de negócios. Se refletirmos um pouco sobre o nosso segmento gráfico e convertedor, tudo se resume hoje em inovações incrementais de produto – impressos mais bonitos, com acabamentos mais sofisticados, com filmes mais finos, com teor de material reciclado pós industrial ou pós consumo, com matérias-primas oriundas de fontes renováveis etc; em termos de inovação em serviço, as gráficas basicamente continuam vendendo da mesma forma que Gutenberg vendia suas indulgências nos arredores de Mogúncia em meados de 1400 (claro, há algumas iniciativas parcas de vender pela internet, com algum grau de personalização por parte do consumidor, mas face ao tamanho da indústria, é “peanuts”).
Quando colocamos o holofote sobre a “inovação no modelo de negócios”, a coisa piora. Quase não há nada fora do lugar-comum. O modelo de franquias e micro franquias é talvez a maior disrupção que tenhamos visto de forma consolidada na indústria gráfica.
Isso tudo não nos parece uma notícia triste, mas uma injeção de ânimo acerca do tamanho da oportunidade de se pensar, com o perdão do trocadilho, fora da caixa.
A próxima curva S
Sabemos hoje que produtos e processos possuem uma espécie de ciclo de vida, tal e qual os seus criadores. Em algum momento da sua existência, eles atingem um angustiante platô. Na prática, esse platô de marasmo significa que alguém mais inovador que você ou a sua empresa finalmente o superou e trouxe uma melhor oferta de valor. Oferta essa que pode, inclusive, ter rompido o trade-off de inovação e custo (o pior cenário para você, diga-se de passagem), em que além de agregar maior valor ao consumidor, o faz reduzindo o custo simultaneamente.
Gartner Hype Cycle for Emerging Technologies, 2022
A consultoria global com foco em inovação Gartner sumariza anualmente as próximas “grandes ondas” de tecnologia que precisam estar no radar, classificando-as por grau de maturidade no chamado “Gartner Hype Cycle for Emerging Technologies”.
Neste ano, a Gartner mapeou 12 tendências consideradas estratégicas e que devem ser, de alguma forma, matéria-prima para a inovação em praticamente todos os negócios existentes (especialmente no que se refere à sua digitalização).
Assim como há uma “Curva Gardner” na área de tecnologias pró-digitalização, há também as macro e micro tendências que afetarão o nosso setor gráfico e convertedor, a “Curva S de Printing, Labels & Packaging”, por assim dizer.
Costuma ser relativamente mais difícil capturar antecipadamente tendências de consumo, uma vez que o ato de consumir é algo mais fugaz do que o caminho inexorável em direção ao avanço tecnológico de uma curva Gardner. De qualquer forma, é difícil, mas não impossível.
Ao nosso ver, aqui chegamos a mais um ponto crítico do processo de inovação: pouca gente está prestando atenção. Clientes que reclamam ou devolvem algo são imediatamente taxados de “chatos e inconvenientes”; mas é precisamente nos inconformados que estão inputs valiosos para a inovação. Afinal, será que não há mais pessoas e empresas inconformadas esperando por um produto ou serviço melhor ou entregue de uma forma mais conveniente?
Pesquisas de satisfação e opinião, investigação do sentimento do cliente do seu cliente nas redes sociais (reviews, reclamações etc.), entrevistas com integrantes nos mais diversos pontos da cadeia de valor e tantas outras técnicas visam colher estes dados cruciais ao processo de ideação ou recriação.
O processo de inovação tem técnica, método. Se você é um leitor assíduo da nossa publicação, deve ter visto já quantas páginas foram escritas sobre o tema. Um dos maiores benefícios de se conhecer e aplicar estas metodologias é diminuir ao máximo os vieses cognitivos que nós todos temos e que certamente podem funcionar como cabrestos na hora de conceber ideias originais.
Uma empresa que se fecha para o mundo, que não oxigena as ideias com fornecedores, clientes, colaboradores (colaboradores de faixas etárias distintas, nascidos e criados em meio a diferentes culturas, de gêneros e credos também distintos etc.), clientes dos clientes, concorrentes diretos e indiretos dificilmente conseguirá fazer as “conexões improváveis” que resultam nas ideias geniais.
E, como sempre, acabamos caindo no tema da cultura empresarial. Um ambiente em que as pessoas têm medo de se expor, arriscar-se e dar novas ideias antagoniza com a inovação. Infelizmente, este tipo de ambiente tóxico é bastante comum na indústria gráfica e convertedora, mais interessada em culpabilizar alguém por um erro do que congratular um acerto ou premiar um “acerto surpreendente”.
Para encerrar, é preciso dizer que no que tange à indústria gráfica e convertedora – todos nós somos também consumidores. Lemos livros, revistas ou jornais, compramos produtos embalados e rotulados, recebemos correspondências e assim por diante.
Isso significa que temos o privilégio de pensar nos produtos impressos que fornecemos criticamente como consumidores, todos os dias. Que boa maneira de inovarmos, não é mesmo?
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