O shelf-life – traduzido para o português como “tempo de vida em prateleira” é o período em que um alimento, armazenado sob condições apropriadas, está ainda adequado ao consumo.
Por “adequado ao consumo” entenda que não haverá perda significativa de suas propriedades organolépticas (cor, sabor, aroma, textura e nutrientes), a ponto de prejudicar a experiência do consumidor final.
Este período é calculado desde a sua produção, distribuição, venda até o momento em que o alimento será enfim armazenado na sua cozinha ou dispensa. Este período pode ser mais ou menos curto, em detrimento de uma série de fatores isolados ou combinados associados ao próprio produto ou o meio exterior. Quer alguns exemplos?
- A qualidade dos ingredientes utilizados no produto (principalmente conservantes);
- Os níveis iniciais de agentes microbianos existentes no produto e embalagem;
- A natureza destes ingredientes, como o teor de umidade e o pH;
- O tipo de fabricação e envase / empacotamento;
- As características de barreira e hermeticidade da embalagem;
- As condições de armazenagem antes e durante o consumo.
Sabe quando você segue à risca as instruções do seu achocolatado (tantas colheres de pó para tantos mililitros de água) e ele não dissolve legal? É bem possível que a solubilidade do achocolatado foi comprometida durante este processo que mencionamos há pouco e, portanto, houve uma redução do seu “shelf-life”.
Isso vale para a manteiga rançosa, a carne escurecida, os fatiados enrijecidos, o wafer ou biscoito moles demais, a batata frita murcha na hora em que você abre o pacote e assim por diante.
Mas como este tempo de vida em prateleira é estimado?
Existem inúmeros métodos diferentes, adotados pelas indústrias alimentícias em todo o mundo. Basicamente, poderíamos dividi-los em duas “escolas”: a escola direta e a indireta.
Calma lá, a gente explica: os adeptos do método direto avaliam o produto nas condições mais próximas da realidade, desde a fabricação até o consumo, até compreender em que momento ele passa a apresentar uma qualidade insuficiente em termos de propriedades. Podem ser dias, semanas, meses ou anos. É claro que essa metodologia, além de tempo, custa caro.
O pessoal do método indireto busca uma alternativa mais rápida e barata, com testes e ensaios “acelerados”, microbiologia preditiva (hoje a inteligência artificial e as redes neurais têm ajudado muito) ou uma combinação destas duas técnicas.
A essa altura, como consumidor, talvez você esteja pensando “onde é que a empresa diz qual o tempo de vida em prateleira de um produto?”.
Bem, você deve ter visto frases como “data de expiração”, ‘data de validade”, “consumir até” e “recomendável o consumo até”, lembra?
As vezes isso parece confuso (na verdade, é sim), pois a legislação muda de país para país e de vez em quando, nos deparamos com produtos que são exportados (e trazem uma comunicação que precisa atender, digamos, a legislação europeia) ou mesmo os importados, que recebem uma etiqueta adesiva com alguma informação variável por cima das informações originalmente impressas na embalagem.
Tenho uma boa e uma má notícia para lhe dar agora, e na sequencia, uma “oportunidade de negócios” (portanto, duas boas notícias):
A boa notícia de número um é que, quase sempre, os fabricantes trabalham com o pior cenário possível em termos de tempo de vida em prateleira. Há uma folga para que, mesmo quando há o consumo distraído ou acidental de algo próximo da data de expiração, não seja algo prejudicial à saúde. Claro, “olhe sempre o que vai comer antes de enfiar na boca”, já diziam as nossas mamães.
A má notícia é que, muitas das vezes, há negligência (ou sacanagem mesmo) e produtos que deveriam ser mantidos a uma certa temperatura para atenderem ao tempo de prateleira previsto, não o são. Alguém se lembra do episódio de “Pesadelo na cozinha” com o chef Jacquin, em que o dono admitia desligar o freezer para “economizar na conta de luz”?
A grande oportunidade de negócios – a boa notícia de número 2 – é que justamente em função deste risco à saúde, a cada ano novas tecnologias no setor de “smart labels” e “smart packaging” surgem, para dedurar quando um alimento saiu da condição de temperatura ideal, por quanto tempo ficou, ou se existe algum processo de deterioração fora do previsto em curso, através de marcadores microbiológicos.
Estas embalagens e etiquetas inteligentes devem crescer muito em todo o mundo (há diversos estudos de mercado a respeito) e, se eu fosse você, estudaria um pouco mais a respeito. Em tempo: já dedicamos duas edições inteiras da ProjetoPack em Revista a este assunto. Se você ainda não assina a edição impressa ou acessa gratuitamente a versão eletrônica em nosso site, corre que dá tempo!
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De onde surgiu a análise de ciclo de vida: uma verdade inconveniente