Nos últimos dias, conduzimos mais uma entrevista no nosso podcast. E, mantendo a tradição, aproveitamos o vídeo para o formato webcast em nosso canal do YouTube.
Foi a primeira entrevista da temporada especial “45 anos de ABIEF”, com o lendário fundador da ITAP, empreendedor e visionário do plástico e das embalagens flexíveis no Brasil, o diretor da Brampac Jacques Sikierski.
Os mais novos talvez não saibam que produtos como sacos valvulados, rótulos-manga, coextrusão de filmes, masterbatches, adesivos para laminação, água mineral em copos plásticos, saco de leite UHT, sacos plásticos para lixo, a própria “plasticultura”, a impressão em rotogravura sobre polietileno, a ITAP e tantas outras empreitadas e projetos passaram pelas mãos de Seu Jacques – que ajudou a construir os alicerces da indústria de embalagens plásticas nacional.
Seu Jacques desembarcou no Brasil aos 22 anos de idade, no ano de 1955. No dia desta entrevista também era o do seu aniversário de 90 anos de idade. Segundo o empresário, ele teria comprado uma serra de fita (uma relíquia até hoje guardada) para produzir as cartolinas que seriam utilizadas como molde na confecção de camisas.
O negócio foi ampliado das cartolinas ao celofane (não existia plástico neste período) para a produção de embalagens para camisas e outras peças de vestuário. Em pouco tempo, o negócio cresceu e saiu do bairro do Limão para uma fábrica maior, no Jaguaré.
“Era uma época bastante desenvolvimentista a que passávamos, a do Juscelino Kubitschek, com tudo ainda por fazer e muitas oportunidades. O país estava se industrializando e nós, juntos com ele”.
Jacques Sikierski
Seu Jacques teve um papel importante no estabelecimento da indústria petroquímica nacional, tendo sido um dos fundadores da primeira delas, a Politeno.
Parte de seu pioneirismo é atribuído, segundo ele próprio, às constantes viagens internacionais e participação ostensiva em feiras setoriais, buscando ativamente por novas ideias e conceitos ao mercado de embalagens e plásticos em geral.
“A rapidez da indústria era tamanha que antes das patentes requeridas serem concedidas pelo INPI, o produto em questão já era obsoleto”, afirma Seu Jacques.
Com Seu Jacques, aprendemos que:
- O sucesso no nosso setor depende, em grande parte, não apenas da coragem e pioneirismo de investir em novas ideias e projetos, mas especialmente em ter o senso crítico de avaliar se não é possível melhorar as já existentes.
- O “comodismo” das empresas e a falta de criatividade são talvez os dois mais graves problemas que os convertedores enfrentam na atualidade. Ambos levam à temível comoditização, onde a escolha baseia-se apenas pelo menor preço, erodindo a margem de todos ao final.
- O Brasil oferece certas alternativas que extrapolam a competência técnica e industrial das empresas: os incentivos fiscais e outros temas tributários que acabam criando uma desigualdade na maneira de competir – o que inclui a nossa área de embalagens flexíveis. Portanto, não tratar este assunto como prioritário e não ter uma estratégia para reduzir estes efeitos (quando por parte da concorrência) ou usufruir dos ganhos, é problemático.
- Há extremismos de ambos os lados – tanto na esfera do ativismo ambiental que acaba comprometendo o desenvolvimento sustentável de alguns negócios, quanto da ganância empresarial descomedida que ignora os impactos da sua atividade ao meio ambiente. É preciso achar o meio termo, e a profissionalização da atividade de reciclagem têm sido fundamental neste processo.
- A visão política pode contribuir em muito na solução do problema do plástico. Ao invés de pensar na questão da arrecadação de tributos por parte do ecossistema de reciclagem – desde o catador até as grandes cooperativas – é preciso considerar o estímulo à atividade, a organização e profissionalização desta extensão da vida útil dos produtos, de forma a obter-se um ganho ambiental e social inestimáveis ao final.
- O tema da reciclagem é tão relevante, que deveria ter um peso equivalente a, por exemplo, a pasta ambiental como um todo. Deveria ser o epicentro de uma política ambiental nacional e abrangente.
Seu Jacques realmente impressiona pela lucidez e postura empreendedora, sempre buscando inovar em seus negócios. Nos mostra que a mente criativa e inovadora não é dependente da tecnologia em si (em alguns momentos, você o verá resmungando e pedindo que alguém lhe ajude a “apagar o celular”), mas da forma de ver o mundo.
O que o mercado perderá quando todos os “Seus Jacques” se aposentarem? Será que as novas gerações estarão aptas a seguir ou aperfeiçoar este sólido legado que alicerçou a indústria de embalagens no Brasil? Vamos torcer para que sim.
Se você prefere ouvir a entrevista, corre lá e já se inscreve no podcast PackCast no link:
Leia mais em nosso blog: