Há alguns anos, vários segmentos industriais tendem a adotar o conceito da indústria 4.0 que de forma sucinta, pode se dizer que é a quarta revolução industrial.
Ela prevê um alto índice de automação dos processos fabris, além de gestão sem precedentes de controles de produção, baseada na tecnologia da informação e que engloba outro conceito: a Internet das Coisas, onde todos os equipamentos de produção e softwares estão conectados em rede com a finalidade de trocar informações.
O objetivo é tornar a produção o mais eficiente possível com redução de custos, erros e desperdícios.
Especificamente na área gráfica, praticamente todos os fabricantes de soluções para pré-impressão oferecem para as gráficas sistemas de workflow com recursos de automatização, onde um arquivo de um cliente ao ser copiado para uma pasta vigiada (hot folder) pode ser confrontado com as informações do orçamento aprovado, analisado em busca de problemas, imposicionado de acordo com a impressora que será usada na impressão, receber ajustes nas cores de acordo com o papel, ripado e gravar formas de impressão com curvas de compensação para facilitar o setup na impressora.
Há muitos anos estão disponíveis soluções como o JDF e CIP4 que permitem a comunicação de duas vias entre aplicativos de gestão, CTPs, impressoras offset e equipamentos de acabamento que permitem não apenas uma produção mais eficiente e com menos perda, mas também uma visualização da produção minuto a minuto.
Na indústria gráfica brasileira, independente do segmento de atuação, as empresas que possuem softwares de workflow com os recursos sofisticados de automação de tarefas, em sua maioria não os utilizam devido a baixíssima qualidade da matéria prima que recebem de seus clientes: os arquivos digitais a serem utilizados para sensibilizar filmes, chapas, clichês e também nas impressoras digitais.
Eles afetam a produtividade dos departamentos de pré-impressão, pois muitos problemas são difíceis de serem detectados e a maioria têm de ser corrigidos manualmente.
E, quando não são percebidos preventivamente, acabam gerando problemas nas outras etapas produtivas como impressão e acabamento. Nestes casos, resultam em refações, perda de insumos e atrasos na entrega dos impressos para os clientes.
São várias centenas de variáveis problemáticas que podem ser divididos em dois grandes grupos:
O primeiro são os problemas de não observância às boas práticas de editoração eletrônica e arte-finalização, tais como: fontes de baixa qualidade, imagens em baixa resolução, uso excessivo de efeitos especiais, espaços de cor inadequados, uso indevido de cores especiais etc. Neste caso, os equipamentos de pré-impressão costumam impedir a geração de matrizes de impressão.
Já o segundo grupo são dos problemas de não observância às boas práticas de produção gráfica industrial, tais como: textos com preto composto nas quatro cores, áreas com preto excessivamente calçado, falta de sangrias etc. Estes problemas são mais perigosos, pois geralmente não impedem o processamento pelos RIPs e suas os efeitos só são percebidos nas próximas etapas industriais ou somente nos impressos.
Em outros países onde as gráficas possuem um índice bastante baixo desses problemas, muitas vezes os profissionais de pré-impressão têm como atividade principal alimentar as gravadoras de matrizes de impressão.
É bem verdade que este panorama já foi muito pior no passado, mas ainda é preocupante e recorrente.
Uma das iniciativas que mais ajudou na melhoria da qualidade dos arquivos digitais foi a norma internacional ISO 15.930 que prevê o uso de boas práticas na diagramação, arte-finalização e principalmente na geração dos PDFs.
Conhecidas como PDF/X (X de Exchange ou seja, troca), duas normas se destacam e são maciçamente utilizadas em diversos segmentos, em especial o editorial, publicitário e promocional. O objetivo principal é garantir que sejam processados pelos software RIPs.
O PDF/X-1a, por exemplo, obriga que o arquivo tenha suas fontes embutidas, que os elementos de página estejam nos espaços de cores grayscale, especiais e CMYK.
Já a derivação PDF/X-3 permite que cores no espaço RGB sejam usadas.
Trata-se de normas facilmente aplicadas tanto pelos criativos quanto pelas gráficas tanto é que estão para completar 15 anos de uso.
No entanto nem tudo são flores, pois a maior parte dos problemas de não observância às boas práticas de produção gráfica industrial, não são contempladas por nenhuma das normas, mesmo as mais atuais.
Análise prévia
Por esta razão, a maioria das empresas gráficas e editoras instituiu nos departamentos de pré-impressão procedimentos de preflight check, que se bem planejados, executados e implantados, resolvem a maioria destas situações.
O termo, em uma tradução ao pé da letra, significa “análise de pré-voo” e foi importado da aviação.
Ele resume todos os procedimentos de checagem da aeronave pelo piloto com a finalidade de identificação de eventuais problemas, ainda com o avião no solo, momentos antes da decolagem.
Na área gráfica, o Preflight Check possibilita analisar, identificar e quando possível, corrigir eventuais problemas antes de enviar os arquivos para o empresa gráfica ou editora, ou nos próprios departamentos de pré-impressão destas empresas.
Prioritariamente é uma tarefa do profissional que criou o documento, pois ninguém melhor que ele para corrigir estes problemas e fazer as adaptações necessárias, mas, infelizmente, a cada dia se torna mais comum que empresas gráficas façam este procedimento para verificar a capacidade de impressão dos arquivos, antes de submetê-los ao RIP das impressoras.
Em caso de problemas, em poucas horas essas empresas enviam relatórios detalhados ao designer, para que ele faça as correções e devolva posteriormente arquivos corrigidos.
Esta análise pode ser feita manualmente e visualmente pelo designer, mas exige atenção e experiência.
Atualmente existem ferramentas específicas e bastante sofisticadas para esta tarefa quase sempre tediosa.
Os mais renomados aplicativos do tipo stand-alone (que rodam como aplicativos à parte) são: Callas pdfToolbox Desktop, Extensis Preflight, Markzware FlightCheck e o Acrobat Pro.
Outros são plug-ins (aplicativos que rodam a partir de outros aplicativos ou que acrescentam funcionalidades a estes) do Acrobat tais como o Callas pdfToolbox e o Enfocus PitStop Pro.
O fenômeno das pré-medias
Seja pela popularização dos aplicativos de editoração eletrônica que passaram a ser utilizados por leigos no processo gráfico ou mesmo pelo aumento da complexidade dos softwares que se prestam ao mesmo tempo de criar layouts para impressão, para web, e outras multimídias como livros eletrônicos é fácil constatar que a qualidade dos arquivos entregues para as gráficas brasileiras, na média é ruim.
Do lado dos criativos, produzir um arquivo de layout 100% a prova de problemas não demora mais tempo do que o arquivo problemático, basta planejamento prévio e procedimentos em relação a fontes, imagens, ilustrações etc. No entanto custa mais caro, pois envolve investimentos em estudo de processos gráficos (e suas limitações), uso correto dos recursos dos aplicativos, e larga experiência em arte-finalizar e gerar o arquivo que será enviado para a gráfica, editora ou clicheria, e somente profissionais mais bem pagos agregam toda estas características, que por sua vez são mais raros.
Alguns empresários perceberam este nicho e começaram a criar empresas de pré-media que são especializadas em receber roughts (layouts não finalizados), processar e entregar arquivos perfeitos para os veículos (jornais, revistas etc.) e empresas gráficas. Algumas inclusive são especializadas em embalagens dos mais variados tipos e outras em tabloides de varejo com criação precificação automatizados.
Impressão digital: Novas competências
Ao contrário do pensamento de muitos empresários gráficos ao investir numa impressora digital, a equipe de pré-impressão continua a ser necessária.
A começar pelo fato das impressoras digitais de tecnologia toner serem tão ou mais exigentes em comparação com gravadoras de matrizes de impressão, ou seja, os arquivos dos clientes que irão alimenta-las também precisam ser analisados e corrigidos.
Geralmente são os profissionais de pré-impressão que fazem todo o processo de calibração, linearização para garantir o gerenciamento de cores e consequentemente a previsibilidade da qualidade dos impressos e sua repetibilidade em tiragens futuras.
Estes profissionais geralmente são responsáveis pela operação e gestão de bancos de dados para a produção de impressos com conteúdos variáveis (VDP)
Outra competência cada dia mais comum desses profissionais é a gestão das soluções de Web to Print. As mais simples permitem o upload de arquivos para a gráfica, outras fazem a análise preventiva, além de personalização online de cartões de visita, por exemplo, a partir de templates prontos, gestão de impressão sob demanda e fazer o pagamento por diversos meios.
Autor: Ricardo Minoru