Nota importante: este artigo foi escrito antes do segundo turno das eleições.
Contando com esta aqui, estamos há apenas uma edição da que encerra o ano de 2022. Minha participação como articulista foi no sentido de explorar seis pilares estratégicos que pudessem, de alguma forma, contribuir na gestão das empresas dos nossos leitores. Algo que penso estar cumprindo, em virtude das mensagens positivas que tenho recebido a cada nova publicação.
Apenas recapitulando brevemente, compartilhamos insights sobre produtividade, aperfeiçoamento técnico do setor de compras, dicas para melhorar a qualidade e agilidade na tomada de decisão no chão de fábrica (heurística) e findamos na edição anterior, colocando a inovação como epicentro do negócio de embalagens, rótulos e impressão.
Nesta “Solução 5 de 6 para um ano de crise”, que sairá para entrega aos correios no período mais conturbado do ano – logo após o encerramento do segundo turno das eleições – achei que deveria tocar de alguma forma no tema do binômio Bom Senso e Pragmatismo.
O motivo é óbvio: no que certamente já é o processo eleitoral mais polarizado da história desse país, muitas relações foram cortadas. Familiares, amigos, vizinhos e – claro – colegas de trabalho acabaram se afastando ou até mesmo brigando (verbal e até fisicamente) em virtude de tais divergências. Aqui para o artigo, é uma oportunidade de ouro explorarmos o que poderia ser feito para não apenas conviver, interagir, comunicar-se no meio profissional – como fazê-lo com excelência, superando as rusgas de uma vez por todas.
Pois é. No mundo em que vivemos hoje – em que há uma atomização da sociedade ao nível do indivíduo e rumamos para uma quase reversão das iniciativas pró-globalização (One World, One Nation”), cada um de nós é um “microcosmo que não pode ser abarcado em um conceito singular e estático que define e restringe”. Simplificando: o homem é bom e também pode ser mau, é dicotômico e de vez em quando, contraditório. É coerente ou não. E muda de opinião o tempo todo, conforme as suas experiências e maturidade.
Isso significa que o conceito de Bom Senso é, per se, complexo. Bom Senso – de acordo com o dicionário – “a forma equilibrada e sensata de decidir e julgar; prudência e razoabilidade; a forma de agir que não se deixa levar pelas paixões, pautando-se pelo equilíbrio, razão e de acordo com padrões morais” implica em dizer que “há uma regra comum, pautada por um padrão moral também universal, para balizar um julgamento”.
Não há. O padrão moral judaico-cristão pode divergir do padrão moral xintoísta, por exemplo. A cultura, que também impacta sensivelmente na prática do bom senso, é multi variada. E assim sucessivamente. É muito difícil exigir bom senso de outrem, quando cada um de nós enxerga o mundo com uma lente diferente.
Evidentemente que, com esta frase, não quero relativizar as coisas. A minha conclusão (ao menos por enquanto, ao refletir sobre o assunto e exprimi-lo nestas poucas linhas) é a de que bom senso não é um conjunto de axiomas, mas o exercício contínuo de boas práticas à luz de uma revisão constante e honesta. Tão constante quanto a mudança que se passa em nós, quanto indivíduos, ao longo da vida.
Posto isto, corroboro que sim há um exercitar saudável de práticas que, com o devido pragmatismo, podem se não anular, mitigar o efeito da discórdia e do antagonismo entre visões de mundo e valores distintos em prol da convivência, do bem comum e da excelência dos resultados no ambiente corporativo. Falemos um pouco destas práticas.
A prática do reconhecimento
Reconhecimento é, talvez, um dos exercícios mais difíceis e que precisa ser feito a todo momento. Reconhecer os próprios erros e virtudes, a própria responsabilidade nos resultados positivos ou negativos de uma situação, assim como as virtudes dos outros. O reconhecimento não é uma questão apenas ligada à empatia. Trata-se de criar o alicerce para o pensamento crítico, tão essencial na tomada de decisões assertiva.
O pensamento crítico permite que diminuamos a influência dos vieses cognitivos – aquela lente diferente com a qual enxergamos a realidade e que, justamente por não compartilhar da mesma lente um com o outro, cria o sentimento de frustração que pode levar à ruptura ou tensão nas relações humanas.
Devemos ainda reconhecer o transitório, a mudança. Opiniões podem mudar, à luz de novos fatos, evidências e experiências. As vezes, um impasse pode ser temporário, e a estratégia de dar tempo ao tempo talvez surta melhor efeito do que insistir no debate acalorado. O bom senso dista do senso comum e também não é um “último senso”.
A prática do pragmatismo
O conceito filosófico da escola pragmatista é muito interessante e vale uma resumo. O pragmatismo surgiu nos Estados Unidos, em meados de 1870, e têm sua origem atribuída aos filósofos Charles Sanders Pierce, William James e John Dewey.
Para esta corrente, o significado de qualquer conceito ou abstração filosófica é a “soma de todas as suas consequências possíveis”. De uma forma um tanto simplória, acreditava-se que a filosofia deveria encarregar-se de investigar apenas o que realmente faz diferença em nossa vida prática (uma boa maneira de encerrar debates metafísicos intermináveis).
O que nos interessa aqui é a raíz desta maneira de pensar tão utilitarista: aos pragmatistas, o fato de possuirmos “lentes” absolutamente únicas para enxergar a realidade impediria que temas subjetivos, relativos e duais possam convergir a uma resposta que satisfaça a todos os envolvidos. E, por esta razão, deveríamos nos ater aos resultados práticos da discussão, de forma racional, objetiva e crítica.
Usando o polêmico exemplo das eleições – trata-se de focar na escolha de um candidato ou candidata que, a despeito de abstrações sobre sistemas de crenças, ideologias, tipo de moral (judaico-cristã, islâmica, agnóstica etc.), preferências pessoais e tantos outros temas aos quais as idiossincrasias e vieses não poderão convergir em uníssono, nos foquemos aos resultados práticos e mensuráveis apresentados (no caso de um candidato a reeleição) ou na coerência e factibilidade de suas propostas e plano de governo (no caso de um novo candidato).
É claro que a eleição não é o melhor exemplo, pois um eleitor enxerga em um candidato, seja qual for o cargo, a sua representação direta. Portanto, é difícil (para não dizer, impossível) desvincular da representatividade, resultados objetivos de valores e crenças.
Porém, na empresa – o pragmatismo é um imperativo. Um gerente não é o seu representante junto à diretoria, assim como não é o analista de recursos humanos. O representante é o resultado do seu trabalho à luz das metas e estratégia da corporação em que você está inserido (a).
Se você nunca pensou sobre o tema, nunca “sentiu o verdadeiro clima organizacional” além das pesquisas rasas de clima conduzidas de tempos em tempos e empreendeu alguma iniciativa para fomentar o bom senso e o pragmatismo nas decisões em todos os níveis da empresa, esta é sem dúvida, uma boa hora para começar. Boa sorte!
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